sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Professores de Minas completam 100 dias de paralisação pelo respeito à Lei do Piso

Nove mil tomam a frente da Assembleia: “é greve, é greve, até que Anastasia pague o piso que nos deve”
Escrito por: Leonardo Severo, de Belo Horizonte-MG
Professores tpmaram o pátio da Assembleia Legislativa de MinasNa tarde desta quinta-feira (15), data em que completaram 100 dias de greve pela implantação do Piso Salarial Profissional Nacional (PSPN), nove mil trabalhadores em educação da rede estadual de ensino de Minas Gerais se somaram no pátio da Assembleia Legislativa, em Belo Horizonte, para reafirmar a determinação de continuar o bom combate pela valorização da educação pública.

Com faixas, cartazes e muito humor, os educadores ironizaram a postura do governador Antonio Anastasia de desrespeitar a Lei do Piso, já regulamentado pela Lei Federal 11.738, utilizando-se de fórmulas estapafúrdias que agregam bonificações e até qüinqüênios para alavancar o valor – o que é flagrantemente ilegal.

“É greve, é greve, é greve, até que Anastasia pague o piso que nos deve”, entoou a multidão, alertando o governador sobre o que deve fazer para por fim à paralisação iniciada no dia 8 de junho. O grito de guerra foi estampado, em meio a um mar de bandeiras do Sind-UTE/MG (Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais), antes mesmo que a coordenadora geral da entidade, Beatriz Cerqueira (Bia), colocasse em votação a proposta sobre os próximos passos do movimento.

“A categoria decidiu que é o momento de manter a ampliar a greve. Vamos realizar aulas públicas em todo o Estado como forma de dialogar com a população sobre a realidade empobrecida da categoria em Minas e da necessidade de termos uma educação pública, gratuita e de qualidade”, declarou Bia. Segundo a coordenadora do Sind-UTE, não há como os educadores retornarem às aulas sem que o governo estadual assuma a sua responsabilidade e implemente o Piso, que é lei. “Ninguém forma ninguém se não tem capacidade de lutar pelos seus próprios direitos”, acrescentou, sob aplausos da multidão.

Nesse momento, explicou, o vencimento básico pago pelo Estado de Minas para um professor de nível médio é de R$ 369. Por isso, a nossa luta pelo piso na carreira, porque ele que vai possibilitar a valorização do profissional que tem nível médio, que tenha licenciatura, que tenha doutorado, mestrado e o tempo de dedicação à escola pública”. O Piso por lei é de R$ 1.597,87.

João Felicio, secretário de Relações Internacionais da CUT, levou a solidariedade da Central ao movimentoBia agradeceu a presença na histórica assembleia dos companheiros da direção da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), bem como dos parceiros dos movimentos sociais, estudantis e religiosos. “Esta unidade nos fortalece e nos impulsiona cada vez mais à luta e à vitória”, acrescentou.

“A mobilização do Sind-UTE é em defesa da educação e do Brasil. A determinação com que vocês estão encarando esta greve é referência para todos os que lutam por um país mais justo e desenvolvido”, afirmou João Felício, que representou a CUT Nacional no evento. Na avaliação do líder cutista, é inadmissível que uma lei amplamente debatida com o governo federal, votada pelo Congresso Nacional e que já deveria estar implementada, continue sendo solenemente descumprida pelo governo mineiro.

Para José Celestino Lourenço (Tino), secretário de Formação da CUT, o próprio lema da greve, “Quem luta também educa”, expõe um compromisso político e ideológico com a transformação, como ensinou Paulo Freire. “Esse compromisso é essencial para a construção de um modelo de desenvolvimento com justiça e inclusão social”, defendeu Tino, condenando a postura “insensível e desumana” do governo estadual.

Beatriz Cerqueira (Bia), coordenadora geral do SInd-UTE, durante a reunião do Comando de Greve, que antecedeu a assembleia desta quinta-feiraEm nome da CNTE, Marta Vanelli reiterou o significado da mobilização em defesa da valorização profissional e da importância da categoria não baixar a cabeça no enfrentamento à prepotência e ao descalabro de uma administração estadual que dá as costas a estudantes, pais e professores. “A luta de vocês é a nossa luta. Contem conosco nesta caminhada”, destacou.

Conforme o Sindi-UTE, que representa 400 mil trabalhadores em educação (professores e funcionários de escola), a mobilização alcança os 853 municípios mineiros, com um nível de adesão superior a 50%, índice que demonstra o grau de indignação da categoria, mesmo enfrentando todos os abusos e atropelos de Anastasia.

Se pelo lado do desgoverno tucano sobram chantagens e ameaças, como o recente anúncio da contratação de mais doze mil professores para substituir os grevistas – antes já haviam sido anunciados três mil -, pelo lado dos trabalhadores sobra determinação, criatividade e ousadia.

Quando em visita ao Vale do Aço o governador montou um mega esquema repressivo para impossibilitar a aproximação dos grevistas, balões com faixas amarradas sobrevoaram o local, com vários deles descendo e causando visível constrangimento à entourage tucana. Quando decidiu suspender o pagamento aos grevistas, ao mesmo tempo em que manipulava a sua mídia para divulgar o isolamento da luta dos educadores, assembleias em portas de fábricas, das mais variadas categorias, começaram a pipocar e recolher milhares de reais para a compra de cestas básicas. Quando Anastasia anunciou a primeira contratação de três mil professores substitutos, em grandes escolas - como o Estadual Central de Belo Horizonte - os próprios estudantes liquidaram a fatura: aqui fura-greve não entra. Quando Anastasia formulou um desastrado e desastroso projeto de lei para institucionalizar o arrocho, a categoria organizou a sua queima simbólica, promoveu “banquetes da miséria” e também protestos com professores acorrentados.

Por mais ridículo que possa parecer, além de colocar policiais militares para reprimir manifestantes e acionar bombeiros para apagar o “incêndio” de queimas simbólicas do seu PL, o desgoverno tucano nada fez. Parece piada de mau gosto, mas não é.

Diante disso, a ação continua com ainda mais energia. Nesta sexta-feira (16),a partir das 18 horas, os trabalhadores em educação realizarão uma panfletagem na Praça da Liberdade durante a inauguração, pelo governador, do relógio da Copa do Mundo de 2014. Na oportunidade, o Sind-UTE voltará a cobrar a importância do investimento em educação e da valorização profissional como estratégicos para o desenvolvimento nacional e regional.

Às 14 horas da próxima terça-feira (20), no pátio da ALMG, acontece nova Assembleia Estadual. A previsão é que nesta data o projeto do governo para a educação seja votado no plenário da Casa.

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