quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

ANÁLISE POLÍTICA - A GREVE DA PM: uma reflexão necessária!

"A crise do capital, o processo de desregulamentação dos direitos e a precarização dos serviços públicos é tão acentuada que chegamos ao ponto de vermos o estado burguês negligenciando uma de suas principais ferramentas de sustentação, o seu ‘braço armado’"
*por Juliano Godoi
A política editorial do estadodegreve entende que todas as manifestações grevistas desenvolvidas mundo afora devem receber a solidariedade classista de todos em qualquer condição, e assim nos solidarizamos a todos os (trabalhadores) policiais militares e bombeiros, que nos últimos dias se recusaram a empregar a sua força de trabalho na dinâmica da exploração capitalista, nos estados da Bahia e do Rio de Janeiro cruzando os braços em uma campanha salarial que exige a aprovação da Lei do Piso Salarial Nacional para os Policiais.

Sabemos, no entanto, e a história do capitalismo demonstra que as forças armadas e as corporações militares sempre foram usadas para reprimir e coibir qualquer tipo de manifestação ou eco que se levante contra a dominação do capital, e isso se manifesta invariavelmente contra a massa da classe trabalhadora. Entendemos também que a estrutura militar sempre se apresenta e intervém nas questões sociais na forma de ‘braço armado do estado’ agindo brutal e violentamente contra as ações organizadas pelos trabalhadores, quando de suas reivindicações.

Assim, frente a esta contradição apresentada dialeticamente pela luta de classes, é importante percebermos como que as reivindicações e ações apresentadas e desenvolvidas pelos militares baianos e cariocas, apresentaram e expuseram uma das fissuras existentes na estrutura do capitalismo e do estado burguês.

A crise do capital, o processo de desregulamentação dos direitos e a precarização dos serviços públicos é tão acentuada que chegamos ao ponto de vermos o estado burguês negligenciando uma de suas principais ferramentas de sustentação, o seu ‘braço armado’, que tem que se mobilizar em ações classistas de reivindicação trabalhistas, antes pertencentes apenas ao operariado proletarizado.


Ao mesmo tempo em que as ações das forças militares da Bahia e do Rio de Janeiro apresentam-se confusas e misturam manifestações patrióticas pequeno-burguesas, ranços da estrutura forjada durante os anos de ditadura militar, também trazem a tona ações significativas de agitações revolucionárias, como as ocupações de órgãos públicos e as greves gerais, que por sua vez, exerceram contundente pressão sobre os governos os expondo e constrangendo.

Tal pressão, por si só, não desestabiliza ou ameaça a estrutura de dominação do estado burguês, no entanto, demonstra a que ponto a negligência estatal poderá chegar. Para ter atingidas as metas superavitárias do parasitismo especulativo do capital, o estado tem de cortar recursos de um de seus principais artífices de sustentação e defesa – os militares. Para cumprir suas metas financeiras o estado burguês ‘dá-se o luxo’ de ‘cortar na própria carne’, interferindo nos salários dos agentes que compõem a sua própria estrutura ideológica de “manutenção da ordem”.

Deste modo, o estrangulamento do salário das forças militares que invariavelmente protegem o estado das conturbações sociais que frente ao processo de exploração sempre o ameaçam, chama-nos a atenção para a atualidade de programas de transição social e política em nossa sociedade.

As greves militares se somam as lutas do campo, as reivindicações trabalhistas das cidades e engrossam a conjuntura política que há muito vem demonstrando saturação. A crise financeira que atinge e maltrata a Grécia, a Espanha e Portugal, atravessa o atlântico e chega ao Brasil na figura da recusa do estado em atender as exigências de melhorias salariais e melhores condições de trabalho, ora da massa de trabalhadores e agora dos policiais e bombeiros.


*Professor de História, servidor público municipal de são Paulo e colaborador do estadodegreve

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