quinta-feira, 15 de julho de 2010

A Greve Geral de 9 de Julho de 1917

*por Juliano Godoi

A data de 9 de julho, representa um marco histórico para a luta organizada da classe operária brasileira. Não se pretende falar do feriado oficial celebrado pelos governos e pela classe dominante do estado de são Paulo, em ocasião do levante militar constitucionalista de 1932, desejamos falar dos acontecimentos que envolveram a organização da primeira Greve Geral da Classe Operária desencadeada a partir de 9 de julho de 1917, na cidade de São Paulo.

Milhares de Operários tomaram em manifestações as principais ruas da cidade de São Paulo.

A Greve Geral de 1917 destaca-se por dois grandes motivos: Primeiro por ter sido a primeira grande experiência social de organização operária contra a exploração burguesa que desencadeou uma greve geral em solo Brasileiro. Segundo por ter em sua estrutura ideológica, novas concepções políticas. Em 1917 vê-se a introdução do ideário anarquista e socialista frente às necessidades da classe trabalhadora.

Potencializados pelas concepções libertárias que junto aos imigrantes europeus chegavam ao Brasil, os trabalhadores Paulistas em 1917 se ergueram contra as péssimas condições sociais e econômicas a que eram submetidos, por melhores condições de trabalho, contra o trabalho infantil e pela melhoria dos salários.

As idéias Anarquistas e Socialistas, que se desenvolviam entusiasmadamente no término do século XIX na Europa, compuseram a bagagem ideológica de muitos dos operários Italianos e Espanhóis que imigraram ao Brasil na leva imigratória de mão de obra do final do século XIX e início do século XX. E como boa parte dos operários que compunham a força de trabalho empregada na indústria paulistana compreendia-se destes imigrantes, tinha-se em São Paulo uma atmosfera efervescente.

Os simpatizantes Libertários Socialistas, assim como todos os outros imigrantes europeus, aqui procuravam superar as dificuldades financeiras existentes na vida no velho continente, no entanto, se defrontaram com uma realidade muito mais dura do que a imaginada. As dificuldades e a Caristia da vida no Brasil, criaram e ampararam o ambiente propício a reivindicações sociais.

Partindo de duas fábricas têxteis da região leste o movimento grevista de 1917 se espalhou rapidamente e paralisou a cidade por três dias, contando também como a adesão dos trabalhadores do serviço público, a greve chegou a somar a mobilização de mais de 100 mil trabalhadores num período onde São Paulo não possuía sequer meio milhão de habitantes.

“...a população paulistana se deparou com um movimento grevista inédito na história das lutas operárias no Brasil. Uma greve geral, deflagrada no mês de Julho, paralisou por três dias as atividades industriais, comerciais, o setor de serviços e o de transportes. Nada funcionou na Paulicéia. A ‘locomotiva’ do país parou para dar passagem às manifestações operárias...” (LOPREATO:1997)

O governo e os industriais não demoraram a reagir e desde as primeiras manifestações sempre estiveram presentes, figurados na reação truculenta da polícia. O fruto de tal reação, nada mais fez do que manchar com sangue operário os acontecimentos de julho de 1917.

No dia 9 de Julho, primeiro dia de mobilizações, as forças policiais em uma investida contra manifestantes que se concentravam em frente à fábrica de tecidos Mariângela localizada no bairro do Brás, assassinaram um grevista espanhol, o Sapateiro de 21 anos José Ineguez Martinez. No dia seguinte, o velório do Sapateiro serviu para a organização de milhares de operários, que em uma das mais emblemáticas manifestações do movimento operário organizado, tomaram as ruas do centro da cidade durante cortejo silencioso.

Cortejo de José Ineguez Martinez (destaque) mobilização maciça dos operários.

Passados os dias, e frente às dificuldades encontradas e em oposição ao forte aparato policial que fora organizado para combater ‘a desordem pública’ o movimento grevista decide desfazer-se acatando o acordo proposto pelo governo e pelos industriais, evitando assim um maior derramamento de sangue.

“...os anarquistas...decidiram acatar a proposta de acordo, amplamente divulgada pela imprensa paulistana em suas páginas, no dia 16 de julho. Eles avaliaram que as concessões representavam um ganho moral para os trabalhadores. Por outro lado, a concentração de tropas federais em São Paulo, a partir do dia 13 de Julho, teve um peso importante na decisão de aceitar a proposta...Os membros do Comitê de Defesa Proletária temiam a possibilidade de um morticínio, em que as vítimas seriam os próprios trabalhadores e a população...” (LOPREATO:1997)
Polícia montada reprimindo, os manifestantes em greve, nas ruas de São Paulo.

Por prudência se desfez o movimento de greve, no entanto, permaneceu a valorização moral do movimento operário paulistano. Os grevistas de 1917 deixaram às gerações posteriores, além de conquistas sociais como o fim do trabalho infantil, um legado revolucionário explícito em seu pioneirismo operário.

Viva o 9 de julho dos operários de 1917!
Viva a Classe operária!

* Juliano Godoi, professor de História e Militante Sindical

BIBLIOGRAFIA:

CASTRO, Pedro. GREVE: fatos e significados. São Paulo, editora Ática – série princípios, 1986.

KONDER, Leandro. História das idéias socialistas no Brasil. São Paulo, Editora Expressão Popular, 2001.

LOPREATO, Christina da Silva Roquette. A semana trágica: a Greve Geral Anarquista de 1917. São Paulo, museu da Imigração, 1997.

Sites:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Greve_Geral_de_1917
http://www.historiabrasileira.com/brasil-republica/greve-geral-de-1917/
http://www.projetomemoria.art.br/RuiBarbosa/glossario/a/greve-1917.htm

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